Três anos depois de ver desaparecer mais de 30 mil empregos, a cidade de
Itaboraí voltou a sonhar com a expectativa de retomada das obras do Comperj.
Desde a notícia de que a Petrobras poderá reiniciar a construção de uma
refinaria no complexo petroquímico em parceria com os chineses, antecipada pelo
GLOBO na última terça-feira, mais de 300 ex-trabalhadores já foram atrás de
informações e de uma vaga no sindicato da região.
É assim que a sede do Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas
Empresas de Montagem e Manutenção Industrial do Município de Itaboraí
(Sintramon), no Centro da cidade, vem se tornando ponto de encontro de
ex-funcionários do Comperj. Com currículos nas mãos e muitas histórias tristes,
as centenas de desempregados depositam agora suas esperanças nos chineses para
esquecer os dias de bicos e venda de doces pelas ruas. A cidade tem hoje,
segundo a prefeitura, cerca de 20 mil desempregados.
— A notícia da retomada das obras causou expectativa. Eles chegam no
sindicato perguntando se já saiu alguma coisa no Comperj. O problema é que até
começar uma obra demora, mas as pessoas acham que é rápido. É um desespero —
comenta Paulo Cesar Quitanilha, presidente do Sintramon.
— As pessoas estão há três anos desempregadas. Mais de 300
ex-funcionários já vieram pedir informação e emprego após a reportagem da volta
do Comperj — diz o vice-presidente do sindicato, Marcos Hartung.
600 PESSOAS NO COMPLEXO
Na última quinta-feira, Roberto Jordan da Silva, de 47 anos, foi uma das
dezenas de homens que acordaram cedo para buscar informação na porta do
sindicato. Ele é o retrato da cidade: trabalhou três anos no Comperj e está há
quase dois anos sem emprego. Hoje, ele e sua família vivem da indenização
trabalhista de R$ 300 mensais da Alusa, uma antiga prestadora de serviços da
Petrobras.
— E é assim que estou sobrevivendo.
Agora, estão todos falando que o Comperj vai voltar. Amém. Eu só quero um
emprego. Tenho fé que isso vai acontecer — comenta Silva, que era encanador
industrial no Comperj e já trabalhou na Refinaria do Nordeste (Rnest), em
Pernambuco.
O Comperj é considerado uma das obras mais polêmicas da Petrobras e foi alvo de corrupção entre construtoras e partidos políticos, em um esquema revelado na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF). Lá, a estatal gastou mais de US$ 13 bilhões e nada ficou pronto. Com a paralisação das obras a partir de 2014, os ex-funcionários relatam que a parte interna do empreendimento sofre hoje com a ferrugem em diversos equipamentos e com a grama que cresce a cada dia entre as tubulações e nas vias, algumas sem pavimentação e com buracos. Atualmente, cerca de 600 pessoas ainda trabalham no Comperj, segundo a Petrobras.
— Eu sou técnico de edificação e, no
Comperj, trabalhava com isolamento térmico. Estou atrás de notícias. Há dois
anos estou sem emprego, vendendo pipoca e biscoito na rua para poder pagar as
contas. Só não perdi minha casa porque estava no seguro — conta Antonio Couto,
de 35 anos.
Nas ruas de Itaboraí, a esperança ainda
não chegou. O comércio entrou em crise, postos de gasolina estão fechados e
bancos já deixaram a cidade. Segundo Ricardo Pestana, presidente da Câmara de
Dirigentes Lojistas (CDL) do município, há 700 lojas vazias que não resistiram
à crise desencadeada com o fechamento do Comperj. Um exemplo é o Intercity, um
complexo com lojas e salas comerciais. Com design moderno, está às moscas.
Aldo Roque Pereira, de 37 anos, veio da
Bahia em 2011 para trabalhar no Comperj. Trabalhou cinco anos como encanador
industrial até virar uma estatística da Petrobras. A esposa, uma técnica de
enfermagem, também está sem emprego.
— Espero que as obras voltem — diz ele.
Quem anda por Itaboraí já se acostumou
com os prédios, ainda no esqueleto, abandonados. Foram mais de 20 lançamentos
residencias em um curto período de tempo, quando as obras do complexo estavam a
pleno vapor. Investimentos que somaram R$ 1 bilhão. Bruno Serpa Pinto,
diretor-geral da Brasil Brokers para o Leste Fluminense, lembra que a região
não tem lançamentos há dois anos, e o estoque ainda é alto. Mas ressalta que,
com a queda de 40% no preço do metro quadrado, as vendas subiram 20% no
primeiro semestre deste ano em relação a 2016:
— Há pessoas que saíram de Niterói e
São Gonçalo e foram morar em Itaboraí por uma questão de oportunidade, de morar
em um apartamento maior e mais barato.
Fonte: Jornal O Globo
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