sexta-feira, 14 de julho de 2017

PREJUÍZOS NA SAÚDE DO RJ DE R$ 30 MILHÕES

Um relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM) aponta que duas organizações sociais (OSs) causaram um prejuízo aos cofres públicos de R$ 30,1 milhões. Com esse dinheiro, seria possível custear o pleno funcionamento de um hospital do tamanho do Souza Aguiar, no Centro, durante um ano inteiro. O contrato inspecionado pelo tribunal se refere à administração da Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda e da Coordenação de Emergência Regional (CER) Centro, ambas no Centro. Essas unidades municipais são geridas desde julho de 2015 pela OS Instituto Gnosis.

De acordo com o relatório, ela é responsável por causar um prejuízo de R$ 10 milhões. Nesta semana, no entanto, o contrato com a OS foi renovado por mais dois anos. Já a OS Instituto SAS, que era a responsável pela gestão das unidades de 2012 a 2015, teria causado rombo de R$ 20 milhões apenas no processo de rompimento de contrato, em julho de 2015.

Entre as irregularidades do Instituto Gnosis apontadas pelo TCM, está a compra de medicamentos com valores, em média, 117% maiores do que os praticados pela Secretaria municipal de Saúde (SMS). Um desses medicamentos foi adquirido com 1.831% de sobrepreço. Em janeiro de 2016, a SMS decretou uma nova norma que prevê punições a OSs que comprarem remédios acima do preço praticado pelo órgão. Após isso, o Gnosis conseguiu se adequar à norma, com redução imediata e significativa dos valores.

A OS alega que a análise dos valores foi feita de "forma fria pelos técnicos do TCM". Segundo a organização, o tribunal não levou "em consideração o cenário daquele momento: havia uma grave restrição de crédito das unidades em razão da inadimplência do antigo gestor e baixíssimo estoque de medicamentos, o que demandou compras emergenciais para suprimento imediato, para o não prejuízo à saúde da população". 

Destacou ainda que "algumas distorções apontadas se deram por divergência em relação à unidade de medida do medicamento (ex: caixa fechada ou unidade individual), o que obviamente causa diferença". A nota do Gnosis acrescentou que, sobre a compra de um medicamento com valor 1.000% superior à tabela da SMS, "alguns problemas sazonais, como falta de matéria-prima de determinado medicamento no mercado, influenciam no processo de compra". Segundo a OS, "em 2015 houve grave desabastecimento de antibióticos essenciais, fazendo com que o preço unitário fosse elevado".

Entre as irregularidades apontadas pelo TCM, estão o pagamento de R$ 2,5 milhões (sendo R$ 2,2 milhões em recursos humanos e R$ 300 mil em custeio) por uma UTI pediátrica que nunca existiu. Em nota, a OS Gnosis afirmou que "muitos documentos não foram analisados pelos técnicos do TCM, em especial o 2º Termo Aditivo ao contrato, de 25 de novembro de 2015, que suprimiu integralmente as verbas questionadas no relatório relativas à UTI pediátrica" e que, assim, o dinheiro foi devolvido ao governo. De fato, o relatório leva em consideração na inspeção um período posterior ao termo aditivo, sem citar se levou, ou não, o documento em consideração.

A Gnosis afirmou que trata-se de um relatório preliminar. "Portanto, não é uma condenação à nossa gestão, apenas um pedido de comprovação de gastos", informou. Ela também negou outras irregularidades citadas pelo TCM, como problemas contábeis e a contratação de uma empresa que, numa licitação, apresentou um valor maior que as outras concorrentes. Alega ainda que o relatório aponta melhorias na unidade em sua gestão.

A OS anterior à Gnosis causou prejuízos maiores, segundo os técnicos do tribunal. De acordo com o relatório, o Instituto SAS, que posteriormente trocou de nome para RPS, recebeu duas parcelas para realizar os serviços de junho e julho de 2015 (R$ 6 milhões), 17 dias antes de abandonar o contrato. De acordo com o relatório, eles nem pagaram o mês de junho dos funcionários - e a prefeitura teve que tirar R$ 1,8 milhões do Souza Aguiar para cobrir o rombo deixado pela OS.

O Instituo SAS alegou à prefeitura que abandonou o contrato porque precisava de reajuste. 
No entanto, nesse mesmo período os donos da OS estavam sendo presos em São Paulo acusados de fraudes na gestão de um hospital em Itapetininga.

Em nota, a gestão Eduardo Paes alegou que realizou a rescisão do contrato com a instituição e abriu uma tomada de contas especial, pois a OS alegava uma dívida da secretaria com a instituição.

"Os valores pagos à OS supriam o aviso prévio e a rescisão trabalhista", informou. Ainda de acordo com a nota, somente após a finalização da tomada de contas especial, que ainda será feita pelo TCM, é que será possível abrir um processo solicitando a devolução de recursos, se a dívida for comprovada.

O TCM fez a inspeção extraordinária a pedido do vereador Paulo Pinheiro (PSOL), motivado pela prisão dos donos da SAS. O relatório seguiu para o conselheiro José de Moraes Correia Neto, que votou, em maio, pelo prosseguimento das diligências. Por isso, o TCM enviou questionamentos às OSs e à SMS para esclarecer dúvidas e, a partir daí, cobrar o montante que for comprovado como gastos irregulares.

— Temos que acabar com essa sangria. A Secretaria de Saúde diz que não tem dinheiro e que precisa de uns R$ 400 milhões para fechar o ano. Está aí uma boa maneira de economizar. Caso se comprove as irregularidades, já são R$ 30 milhões — disse Pinheiro. — Estamos pedindo a inspeção para ver se houve irregularidades.


A SMS informou que está levantando as informações necessárias e que tem até 28 de julho para responder ao TCM. Disse ainda que já foi aberto processo de tomada de contas das OSs.



Fonte: O Globo






segunda-feira, 10 de julho de 2017

A VOLTA DO COMPERJ

Três anos depois de ver desaparecer mais de 30 mil empregos, a cidade de Itaboraí voltou a sonhar com a expectativa de retomada das obras do Comperj. Desde a notícia de que a Petrobras poderá reiniciar a construção de uma refinaria no complexo petroquímico em parceria com os chineses, antecipada pelo GLOBO na última terça-feira, mais de 300 ex-trabalhadores já foram atrás de informações e de uma vaga no sindicato da região.
É assim que a sede do Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas Empresas de Montagem e Manutenção Industrial do Município de Itaboraí (Sintramon), no Centro da cidade, vem se tornando ponto de encontro de ex-funcionários do Comperj. Com currículos nas mãos e muitas histórias tristes, as centenas de desempregados depositam agora suas esperanças nos chineses para esquecer os dias de bicos e venda de doces pelas ruas. A cidade tem hoje, segundo a prefeitura, cerca de 20 mil desempregados.

— A notícia da retomada das obras causou expectativa. Eles chegam no sindicato perguntando se já saiu alguma coisa no Comperj. O problema é que até começar uma obra demora, mas as pessoas acham que é rápido. É um desespero — comenta Paulo Cesar Quitanilha, presidente do Sintramon.

— As pessoas estão há três anos desempregadas. Mais de 300 ex-funcionários já vieram pedir informação e emprego após a reportagem da volta do Comperj — diz o vice-presidente do sindicato, Marcos Hartung.

600 PESSOAS NO COMPLEXO
Na última quinta-feira, Roberto Jordan da Silva, de 47 anos, foi uma das dezenas de homens que acordaram cedo para buscar informação na porta do sindicato. Ele é o retrato da cidade: trabalhou três anos no Comperj e está há quase dois anos sem emprego. Hoje, ele e sua família vivem da indenização trabalhista de R$ 300 mensais da Alusa, uma antiga prestadora de serviços da Petrobras.

— E é assim que estou sobrevivendo. Agora, estão todos falando que o Comperj vai voltar. Amém. Eu só quero um emprego. Tenho fé que isso vai acontecer — comenta Silva, que era encanador industrial no Comperj e já trabalhou na Refinaria do Nordeste (Rnest), em Pernambuco.

O Comperj é considerado uma das obras mais polêmicas da Petrobras e foi alvo de corrupção entre construtoras e partidos políticos, em um esquema revelado na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF). Lá, a estatal gastou mais de US$ 13 bilhões e nada ficou pronto. Com a paralisação das obras a partir de 2014, os ex-funcionários relatam que a parte interna do empreendimento sofre hoje com a ferrugem em diversos equipamentos e com a grama que cresce a cada dia entre as tubulações e nas vias, algumas sem pavimentação e com buracos. Atualmente, cerca de 600 pessoas ainda trabalham no Comperj, segundo a Petrobras.


— Eu sou técnico de edificação e, no Comperj, trabalhava com isolamento térmico. Estou atrás de notícias. Há dois anos estou sem emprego, vendendo pipoca e biscoito na rua para poder pagar as contas. Só não perdi minha casa porque estava no seguro — conta Antonio Couto, de 35 anos.
Nas ruas de Itaboraí, a esperança ainda não chegou. O comércio entrou em crise, postos de gasolina estão fechados e bancos já deixaram a cidade. Segundo Ricardo Pestana, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do município, há 700 lojas vazias que não resistiram à crise desencadeada com o fechamento do Comperj. Um exemplo é o Intercity, um complexo com lojas e salas comerciais. Com design moderno, está às moscas.

Aldo Roque Pereira, de 37 anos, veio da Bahia em 2011 para trabalhar no Comperj. Trabalhou cinco anos como encanador industrial até virar uma estatística da Petrobras. A esposa, uma técnica de enfermagem, também está sem emprego.
— Espero que as obras voltem — diz ele.

Quem anda por Itaboraí já se acostumou com os prédios, ainda no esqueleto, abandonados. Foram mais de 20 lançamentos residencias em um curto período de tempo, quando as obras do complexo estavam a pleno vapor. Investimentos que somaram R$ 1 bilhão. Bruno Serpa Pinto, diretor-geral da Brasil Brokers para o Leste Fluminense, lembra que a região não tem lançamentos há dois anos, e o estoque ainda é alto. Mas ressalta que, com a queda de 40% no preço do metro quadrado, as vendas subiram 20% no primeiro semestre deste ano em relação a 2016:


— Há pessoas que saíram de Niterói e São Gonçalo e foram morar em Itaboraí por uma questão de oportunidade, de morar em um apartamento maior e mais barato.



Fonte: Jornal O Globo






A VOLTA DA FEBRE AMARELA

Doença silvestre desde a década de 1940, a febre amarela pode voltar a se tornar uma enfermidade de cidade. Pesquisa dos Institutos Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e Evandro Chagas, em parceria com o Instituto Pasteur, em Paris, mostrou que mosquitos urbanos, como Aedes aegypti e Aedes albopictus, têm elevada capacidade para a transmissão do vírus da febre amarela. A pesquisa foi publicada nesta sexta-feira, 7, na revista Scientific Reports.
Um dos autores do estudo, Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, explicou que a intenção do trabalho era avaliar o risco de a febre amarela voltar a se tornar uma doença das cidades.
Neste ano, foram registrados 797 casos da doença no Brasil, com 275
Doença silvestre desde a década de 1940, a febre amarela pode voltar a se tornar uma enfermidade de cidade. Pesquisa dos Institutos Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e Evandro Chagas, em parceria com o Instituto Pasteur, em Paris, mostrou que mosquitos urbanos, como Aedes aegypti e Aedes albopictus, têm elevada capacidade para a transmissão do vírus da febre amarela. A pesquisa foi publicada nesta sexta-feira, 7, na revista Scientific Reports.

Um dos autores do estudo, Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, explicou que a intenção do trabalho era avaliar o risco de a febre amarela voltar a se tornar uma doença das cidades.
Neste ano, foram registrados 797 casos da doença no Brasil, com 275 mortes. Mas todas as pessoas foram picadas por mosquitos silvestres
 Para avaliar o risco de reurbanização, foram testados mosquitos urbanos (Aedes aegyptiAedes albopictus) do Rio de Janeiro, onde não havia registros da doença havia 70 anos, de Manaus e Goiânia. E diferentes linhagens do vírus - a que circulava anteriormente no Brasil, a que está circulando agora e a que foi isolada na África. Isso porque a diversidade das populações de mosquitos e as transformações dos vírus, ao longo das décadas, poderiam ter afetado a capacidade de os insetos transmitirem a doença.

"O vírus vai evoluindo no tempo, produzindo mutações, criando adaptações. Por isso precisávamos fazer a comparação. E, de fato, a chance de transmissão dos vírus é muito grande pelos insetos do Rio de Janeiro e de Manaus. A transmissão ocorre nos mosquitos de Goiânia em menor grau", afirmou Lourenço.
Foram avaliados mosquitos silvestres das espécies Haemagogus leucocelaenus e Sabethes albiprivus. O trabalho analisou ainda insetos Aedes aegypti e Aedes albopictuscoletados nas três capitais brasileiras e em Brazzaville, no Congo, onde a febre amarela silvestre é endêmica.

Os insetos foram divididos por gênero, e fêmeas foram alimentadas com amostras de sangue contendo vírus da febre amarela de diferentes linhagens. A presença de partículas de vírus na saliva dos insetos após 14 dias foi o indicador do potencial de transmissão da doença. Todos os mosquitos tinham capacidade de transmitir a febre amarela, com exceção do Aedes albopictus de Manaus, que não transmitiu o vírus africano. 

"A capacidade de o Aedes aegypti do Rio de Janeiro transmitir a febre amarela chega a 60% com a linhagem que circula agora e a 40% com a linhagem do passado ou do oeste africano. É maior do que o mesmo mosquito de Goiânia, onde emergem casos de macacos infectados, e do que o de Manaus, que é área de febre amarela endêmica."

Para o pesquisador, diante da real possibilidade de reintrodução da febre amarela urbana, é preciso que as autoridades de saúde intensifiquem o combate ao mosquito e imunizem a população. 

"A transmissão urbana já pode estar acontecendo, e a gente não sabe. Na década de 1930, descobriram que havia a febre amarela silvestre porque houve caso no Espírito Santo e não acharam nenhuma larva ou adulto de Aedes aegypti", explicou. "Agora, só vamos provar a febre amarela urbana se não houver macaco doente nem mosquito silvestre naquela região."


Fonte: Jornal Estadão